26 de jun. de 2013

NÃO ME DEIXES!

Debruçada nas águas de um regato,
A flor dizia em vão

À corrente, onde bele se mirava...
- Ai, não me deixes, não!"

"Comigo fica, ou leva-me contigo
"Dos mares à amplidão:

"Límpido ou turvo, te amarei constante;
"Mas não me deixes, não!"

E a corrente passava; novas águas
Após as outras vão;

E a flor sempre a dizer, curva na fonte:
- "Ai, não me deixes não!"

E das águas que fogem incessantes
A eterna sucessão,

Dizia sempre a flor, e sempre embalde:
- "Ai, não me deixes, não!"

Por fim desfalecida e cor murchada,
Quase a lamber o chão,

Buscava inda corrente por dizer-lhe
Que a não deixasse, não.

Corrente impiedosa a flor enleia,
Leva-a do seu torrão;

A afundar-se dizia a pobrezinha:
- "Não me deixaste, não!"

Gonçalves Dias




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