2 de nov. de 2011

CAIXA MÁGICA DE SURPRESA



Um livro
é uma beleza,
é caixa mágica
só de surpresa.


Um livro
parece mudo,
mas nele a gente
descobre tudo.


Um livro
tem asas
longas e leves
que, de repente,
levam a gente
longe, longe.


Um livro
é parque de diversões
cheio de sonhos coloridos,
cheio de doces sortidos,
cheio de luzes e balões.


Um livro
é uma floresta
com folhas e flores
e bicos e cores.

É mesmo uma festa,
um baú de feiticeiro,
um navio pirata do mar,
um foguete perdido no ar,
é amigo e companheiro.


Elias José

PONTO DE TECER POESIA (1)



Era uma vez um rato,
rato-ratinho-roedor,
que roeu toda a poesia
que uma fada fazia
em noite enluarada.
Pobre fada!
Aí, chegou Dona Estrela
e beliscou aquele rato
com uma ponta bem aguda,
da sua unha de estrela,
vermelha.
O rato gritou, sofrido.
A fada teve um desmaio.
A estrela foi pra China,
e da poesia
eu caio.

Sylvia Orthof

PONTO DE TECER POESIA (2)



Balanceia,
balanceia,
sereia
renda do mar.
Tua cauda é uma teia
onde os fios
das histórias
os sonhos
vão enfeitar.
Tua rede é o oceano
que balanceia
em sereia.
Um peixinho foi,
voltou,
depois disse para mim:
- A teia do mar imenso,
eu penso
não ter
um
fim.



Sylvia Orthof

LAGOA



Eu não vi o mar.
Não sei se é bonito,

Não sei se ele é bravo,
O mar não me importa.

Eu vi a lagoa.
A lagoa, sim.
A lagoa é grande
e calma também.

Na chuva de cores
da tarde que explode
a lagoa brilha,
a lagoa se pinta
de todas as cores.

Eu não vi o mar.
Eu vi a lagoa...


Carlos Drummond de Andrade

DONA VASSOURA



Trabalho o dia todo,
todo dia sem falhar.
Não conheço feriado
nem sei o que é repousar.

Sempre em pé, sempre pronta!
Pensam que eu sou de aço?
Sei que sou uma vassoura
mas durmo em pé de cansaço!

Se a visita é bem chata
e com a hora não se importa
me viram de cabeça pra baixo
e fico tonta atrás da porta.

Minha maior inimiga
é aquela sujeirinha teimosa
que gruda no chão feito cola
e comigo se faz de gostosa.

As praias são tão grandes,
morro de tanto trabalhar.
Se todos sujassem menos,
menos tinha pra limpar.

Quanto mais velha eu fico
bem mais eu quero ficar,
pois só depois de bem velha
me deixam em paz pra brincar.

Guimar de Paiva Brandão

1 de nov. de 2011

TREM DE FERRO



Café com pão
Café com pão
Café com pão

Virgem Maria que foi isto maquinista?

Agora sim
Café com pão
Agora sim
Café com pão

Voa, fumaça
Corre, cerca
Ai seu foguista
Bota fogo
Na fornalha
Que eu preciso
Muita força
Muita força
Muita força

Oô..
Foge, bicho
Foge, povo
Passa ponte
Passa poste
Passa pato
Passa boi
Passa boiada
Passa galho
De ingazeira
Debruçada
Que vontade
De cantar!

Oô...
Quando me prendero
No canaviá
Cada pé de cana
Era um oficia
Ôo...
Menina bonita
Do vestido verde
Me dá tua boca
Pra matá minha sede
Ôo...
Vou mimbora voou mimbora
Não gosto daqui
Nasci no sertão
Sou de Ouricuri
Ôo...

Vou depressa
Vou correndo


Vou na toda
Que só levo
Pouca gente
Pouca gente
Pouca gente...

(Manuel Bandeira)

O TEMPO É UM FIO



O tempo é um fio fino bastante frágil.
Um fio fino que à toa escapa.
O tempo é um fio.
Tecei! Tecei!
Rendas de bilro com gentileza.
Com mais empenho franças espessas.
Malhas e redes com mais astúcia.
O tempo é um fio que vale muito.
Franças espessas carregam frutos.
Malhas e redes apanham peixes.
O tempo é um fio por entre os dedos.
Escapa o fio, perdeu-se o tempo
Lá vai o tempo
como um farrapo
jogado à toa!
Mas ainda é tempo!
Soltai os potros aos quatro ventos,
mandai os servos de um pólo ao outro,
vencei escarpas, dormi nas moitas,
voltai com tempo que já se foi...

(Henriqueta Lisboa)

GATO PENSA?



Dizem que gato não pensa
mas é difícil de crer.
Já que ele também não fala
como é que se vai saber?

A verdade é que o Gatinho,
quando mija na almofada,
vai depressa se esconder:
sabe que fez coisa errada.

E se a comida está quente,
ele, antes de comer,
muito calculadamente,
toca com a pata pra ver.

Só quando a temperatura
da comida está normal,
vem ele e come afinal.

E você pode explicar
como é que ele sabia
que ela ia esfriar?

(Ferreira Gullar)

A MENINA TRANSPARENTE



Eu apareço disfarçada de todas as coisas . . .
Posso ser vista no por-do-sol ou no nascer dele.
Eu posso estar através da janela,
Posso ser vista na asa da gaivota
Ou pelo ar que passa por ela.
Muitos me vêem no mar,
Outros na comida da panela.
Posso aparecer para qualquer ser,
Desde ele pequenininho;
Ficar com ele direitinho,
Se tratar de mim como eu merecer.
Uns me pegam pra criar em livro,
Outros me botam num vestido lindo,
Cheio de notas musicais:
Fico morando dentro da música.
Tenho muitas mães e digo mais:
Sou uma criança com muitos pais.
Tem gente que diz que eu nasço dentro da pessoa,
E faço ela olhar diferente,
Pra tudo que todos olham,
Mas não notam.
Ás vezes apareço tão transparente e de mansinho
Que mais pareço um Gasparzinho.
Tem gente que nunca percebe que estou ali,
Não cuida de mim,
Não me exercita.
Eu fico como um laço de fita
Que nunca teve um rabo de cavalo dentro.
Eu fico como uma planta de dentro da casa
Que ninguém molha, conversa nem nada.
Quem me adivinha logo dentro dele,
Quem percebe que estou ali diariamente,
Quem anda comigo e com o meu gingado,
Fica com o coração inteligente
E com o pensamento emocionado.
A esse que eu dou a mão,
E vou com esse para todo lado:
Aniversários, passeios, sono, cama, biblioteca, casa, escola;
Estou com esse a toda hora.
Tem gente que me vê muito na beleza da flor,
No mato, na primavera e no calor.
É que ando muito mesmo.
Eu posso até voar!
Por isso que me vêem no céu, nas estrelas, nos planetas
E nas conversas das crianças.
Quem anda comigo tem muita esperança.
Todo mundo que me tem
Pode me usar e me espalhar por aí.
Quem gosta muito de mim,
Depois que me conhece,
Junta gente em volta como se eu fosse uma festa.
Me usam até em palestra!
Me acordam lá do papel.
Ih! Eu tinha esquecido de dizer
Que, quando a pessoa começa a me escrever,
Eu fico morando no papel.
Toda vez que alguém me lê para dentro eu passo para dentro dele.
Toda vez que alguém me lê para fora, em voz alta,
Como se eu fosse uma música,
Eu passo para dentro de todo mundo que me vê;
Eu posso trazer alento a todo mundo que me escuta.
Tem gente que me pega só numa fase,
Como se eu fosse uma gripe boa,
E como se dessa boa gripe ficasse gripada.
Quero dizer . . .
Eu dou muito no coração de gente apaixonada.
Minha palavra é do sexo feminino,
Brinco com menino e com menina,
Fico com a pessoa até ela ficar velhinha,
Inclusive de bengala;
E depois que ela morre,
Faço ela ficar viva
Toda vez que por mim é lembrada.
Ás vezes eu sou sapeca,
Ás vezes eu fico quieta,
Mas todo mundo que olha através de mim é poeta.
Veja se eu sou esta que fala dentro de você.
Eu não posso escrever porque não sou poeta:
Sou a poesia!
Tente agora fazer um verso.
Se eu fosse você, faria.

(Elisa Lucinda)

RECEITA PARA INVENTAR PRESENTES



Colher braçadas de flores
bambus folhas e ventos
e as sete cores do arco-íris
quando pousam no horizonte
juntar tudo por um instante
num caldirão de magia
e então inventar um pássato louco
um novo passo de dança
uma caixa de poesia.

(Roseana Murray)