Debruçada nas águas de um regato,
A flor dizia em vão
À corrente, onde bele se mirava...
- Ai, não me deixes, não!"
"Comigo fica, ou leva-me contigo
"Dos mares à amplidão:
"Límpido ou turvo, te amarei constante;
"Mas não me deixes, não!"
E a corrente passava; novas águas
Após as outras vão;
E a flor sempre a dizer, curva na fonte:
- "Ai, não me deixes não!"
E das águas que fogem incessantes
A eterna sucessão,
Dizia sempre a flor, e sempre embalde:
- "Ai, não me deixes, não!"
Por fim desfalecida e cor murchada,
Quase a lamber o chão,
Buscava inda corrente por dizer-lhe
Que a não deixasse, não.
Corrente impiedosa a flor enleia,
Leva-a do seu torrão;
A afundar-se dizia a pobrezinha:
- "Não me deixaste, não!"
Gonçalves Dias
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